sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vingança do Senhor do tempo





Pelo que me lembro no último post andei falando alguma coisa de estar no futuro, uma brincadeira sobre a diferença de horário entre Brasil, Europa (Rodrigo e Elo vocês não contam, a Austrália ta na frente!!!) e Índia. Pois bem, pegamos o avião em Mumbai, chegamos em Calcutá, deixamos as coisas no Hotel e fomos direto para uma viagem ao tempo. Desta vez nada de brincadeira, delírio ou qualquer coisa que o valha. Importante dizer, não fomos levado ao futuro e sim a um passado de sessão da tarde, filmes da época de Jesus Cristo. De repente chamei o Érico e perguntei, Cara, você não tem a impressão de que a qualquer momento vamos cruzar com o Mel Gibson, no intervalo das gravações do filme sobre Cristo?

Calcutá tem sido isso, e para dois espíritos loucos por aventuras como nós a cidade está nos oferecendo muitas coisas. É certo que a poluição incomoda, é a segunda cidade mais poluída do globo e isso não é só estatística, meu nariz e olhos que o digam. Cruzamos a Índia de oeste para leste e recomeçamos tudo. Por mais que eu esteja cansado, cada hora aqui tem sido uma experiência que sempre desejei ter. Quando penso que o Everest fica aqui perto... caracas, perco o sono!!

Hoje teria tudo para ser um dia perdido. Temos agendado algumas ongs para visitar semana que vem, amanha vamos ao bairro da Luz vermelha (Camila, Marcos e Gabi, vocês estarão comigo lá!), onde foi gravado o filme ‘Nascidos em Bordeis’, e hoje tínhamos agendado uma visita a mais uma favela daqui. Deu tudo errado, o guia nos levou a um lugar que parecia piada perto do que encontramos por nós mesmo. Não ficamos na favela, passamos num Shopping bem moderno, comemos um Kebab, para evitar enganos, pegamos um tuk tuk (divertido isso!!) até o metro...

Saímos caminhando a esmo e nossa intuição e a harmonia com que estamos fazendo este trabalho nos levou para uma outra vertente dessa viagem ao tempo. Por ali passava um tal de rio sagrado, chamado Ganges, encontramos uns anjos se banhando, eles adoram fotos e quase se mataram de rir quando eu escorreguei numa lama e por milagre (deles talvez) não cai com equipamento e tudo na água... mas tudo bem seria um banho sagrado e naquela hora eu já estava mais que precisando!! Comecei a ver uma aparição, uma ponte no fundo de um corredor de trilhos de trem, meio moderna a construção... mas como era uma aparição não liguei muito e sem falar nada fomos naquela direção.

Ali embaixo... bom, tinham pessoas fazendo arranjos de flores, guirlandas coloridas, colares de uma flor que nunca vi na vida. Foi comovente ver aquelas mãos ásperas pegando em coisas tão delicadas e tornando o que já era belo em algo... peraí, já avisei que foi sagrado aquilo? Tive certeza disso quando parei de me preocupar em perder o Érico, em ter medo de ficar sozinho naquele lugar e de que algum espírito do mal tentasse fazer algo contra a gente (maldade aqui? piada pensando nas pessoas que ando cruzando em minha vida real!!), sem essa preocupação, ele inesperadamente aparecia no meio de carregadores, trabalhadores de todos os tipos de atividades manuais que sua imaginação pode prever. O Érico fala bastante, sempre tá de bom humor e disposto a bater papo. Dessa vez ele só me olhava com a cara de satisfeito, feliz, eu podia ler seus pensamentos: ‘I love my job!!’ e tava tudo certo...

Estamos num Hotel num lugar bastante caótico da cidade, mas é um 4 estrelas, muito bom, chão de mármore, chique, o café da manha? Jesus!!! O táxi nos deixou na porta, foi aí que me senti estranho, estávamos sujos, imundos melhor dizer, eu tinha lama na bota e calça e o fato dela ser sagrada não fazia muita diferença ali. Entramos no saguão e percebi algumas pessoas nos olhando estranho. Os dois estavam sentindo a mesma coisa, uma enorme vontade de rir, de gargalhar pela situação, pela felicidade plena, pelo amor pela profissão e principalmente por termos a convicção que estávamos terminando um dia especial, que jamais esqueceríamos.

O Érico foi tomar banho, coloquei minhas fotos para descarregar, dei play para o Morrisey cantar ‘I Like You’, deitei no carpete macio, estendi meus braços e senti as costas doer um pouco, quando fechei os olhos tive a certeza que poucas vezes na vida me senti tão feliz, tão realizado... mas não se engane, Calcutá é a cidade que com certeza qualquer turista processará a agência que o mandar para cá!

Um comentário:

ANNA disse...

Que inveja sagrada!
Me arrepiei ao tentar sentir a mesma sensação dessa deitada no carpete cheia de realização!