terça-feira, 13 de maio de 2008

vôo 9w-261


Aqui começa a jornada de volta pro passado. Estou há duas horas no aeroporto de Kathmandu, esperando um vôo (que está atrasado) para Delhi e de lá, depois de esperar umas 6 horas pego outro vôo para Paris, mais três horas de espera e entro na última aeronave que me levará de volta pra casa. Ufa!! Se vocês já estão cansados imagina eu.

Pra chegar até aqui foi uma aventura. Acabei me distraindo na minha última manha no Nepal e me atrasei. Eu tinha uns 40 minutos para chegar. Combinei com um taxista que passaria no Hotel comigo, onde eu deveria pegar a mala e correr para o aeroporto.

O trânsito na cidade é um caos, como eu já deveria ter me acostumado. As ruas são apertadas, sem calçadas e são divididas com uma multidão de pedestre, carros, bicicletas, motos...ah, e muitas vacas!

O que até então tinha sido engraçado se tornou uma tortura, afinal, apesar de eu não estar nenhum pouco a fim de voltar, tenho meus compromissos e não posso mais ficar na Ásia.

Se eu estava preocupado e um pouco nervoso o taxista então!!! Ele não tirava o dedo da buzina. Fiquei surpreso quando ele começou a xingar, na direção de um carro que vinha pela contra-mão, era um camburão preto da policia. Achei que ele não tinha percebido e tentei avisá-lo, mas ele sabia muito bem quem era e continuou blasfemando. Confesso que fiquei com inveja da coragem dele.

Numa outra rua apertada, do tipo 25 de março em São Paulo, um carro que não estava com tanta pressa como nós começou a broquear a passagem. Irritado com as constantes buzinadas do taxista, o motorista, um senhor de uns 50 anos, que usava uma máscara azul para se proteger da poluição, veio brigar com a gente. Os dois estavam numa briga que por muito menos no transito de São Paulo, acaba em morte. Era braço pra lá, apontada de dedos pra cá, tudo num idioma que parecia um mantra descompassado.

Pelo que entendi o taxista enfim disse pro outro briguento que eu estava atrasado para pegar o vôo. O cara olhou para dentro do carro, tirou a máscara, deu um sorriso e falou, ah sorry (com bem mais erres do que vocês possam imaginar), esbanjando um sorriso e enfim pudemos sair.

Não poderia escolher outra história para contar como foram estes dias no Nepal.
Normalmente saio de um país desejando voltar um dia. Mas aqui, um dos lugares que eu mais queria conhecer, saio com um aperto no coração e uma vontade grande de ficar mais tempo, de voltar muitas vezes.

Foram dias de muita paz. Não me sentia um turista, mas sim um curioso, alguém que durante muito tempo desejou uma coisa e, finalmente a tinha diante de seus olhos.

Sexta-feira recebi a visita do Carlinhos, primo do Érico que mora em Nova York, mas está na Índia a trabalho. Tínhamos nos conhecido em Delhi, no domingo passado e combinado a trip. Nem precisa dizer que nos demos muito bem.
O cara é demais, daqui vai voltar à Índia, depois vai pra Turquia, Egito e vários outros lugares interessantes, ah e quando terminar todas essas viagens de trabalho ele volta para Manhattan...

Fui novamente a alguns lugares que já tinha ido, mas deixei para conhecer com ele um dos pontos mais interessantes de Kathmandu, a Durbar Square. Uma praça no meio do centro velho da cidade, onde tem os principais templos e palácios. Ali conhecemos uma história curiosa. Em uma das construções mora uma Deusa viva, uma menina que até a menstruação será cultuada como uma divindade. Depois disso ela volta a vida normal de um ser humano e, seguindo uma lista de pistas, escolhem entre tantas possibilidade, uma outra menina para substituí-la.

Subimos no terraço do maior prédio da praça e sentamos no bar para comemorar a viagem com uma cerveja Everest. A vista era inacreditável. Além do museu a céu aberto, Kathmandu é cercada por montanhas. Num passado bastante distante tinha um lago ali. Quando sobrevoamos a cidade, fica fácil acreditar nesta história.

Eu que me achava um viajante descolado, quando comecei a ouvir as histórias do Carlinhos fiquei até com vergonha. Pra se ter uma idéia ele já foi seqüestrado por guerrilheiros na Bolívia, os caras quase queimaram o carro com ele trancado dentro; se meteu numa briga de rua em Delhi e, ah, ai vem a melhor parte, já jantou no Daniel’s, um dos melhores restaurante de Nova York, sem fazer a reserva de 3 meses antes. Enfim, este sim é um sujeito descolado. Entre estas e outras histórias e, sempre que possível uma cerveja, passamos dias agradáveis juntos.

Foram dias especiais celebrando a vida em Kathmandu. Quero voltar e espero que não demore muito, mas estou contente de ter passado estes dias aqui. É impossível fazer uma viagem como essa e voltar para casa do mesmo jeito...

Aeroporto Charles de Gaulle.

Pensei que a esta altura da viagem eu estaria muito cansado, mas estou bem. Tive uma ótima surpresa ainda em Kathmandu. Um pouco antes do embarque encontrei o casal de mexicanos que eu tinha conhecido em Varanasi, fizemos um passeio de barco pelo Ganges e, juntamente com a Hanna, jantamos num restaurante com uma vista maravilhosa da cidade.

A coincidência acabou nos ajudando a passar o tempo que tínhamos em Delhi de uma maneira mais divertida. O aeroporto da capital da Índia é um dos piores que eu já fui, não tem nada para fazer. Tanto eu como eles (que voltavam para o México via Frankfurt) tínhamos mais de 5 horas de espera.

Fomos então para o bar de um Hotel de luxo que fica por perto. Como vocês percebem, mesmo viajando só, sempre encontro pessoas interessantes com as quais compartilho momentos divertidos.

Tem sido assim a viagem toda. Daqui a algumas horas estarei no Brasil. Como disse no primeiro post depois que cheguei em Mumbai, hoje sou uma pessoa muito melhor do que eu era.

Acho que é impossível você passar por uma experiência como esta e voltar o mesmo, como já disse tentas vezes. Principalmente se você se propõe as coisas pelas quais passei. Foram dias intensos, onde pude celebrar coisas que prezo na vida: a amizade, o Érico se mostrou um amigo fantástico; a minha profissão; sem contar todas as coisas vividas num país incrível como a Índia.

Volto com a certeza que a vida é mesmo incrível e que o melhor de tudo: as grandes decisões estão sempre sobre nossa responsabilidade. Não há nada melhor do que ter a certeza que você é o administrador da sua vida, que tem sim o poder para fazer as coisas estarem a seu favor e, conseguir um dia olhar para sua imagem refletida no vidro de um aeroporto, o sol nascendo atrás de um avião gigante e, mesmo cansado, com os olhos vermelhos, dar um grande sorriso para você mesmo e dizer a primeira palavra que sempre aprendo quando visito um país diferente: obrigado.


NAMASTÊ.

OBRIGADO A VOCÊS POR ESTAREM ESSE TEMPO TODO COMIGO, ATÉ A PRÓXIMA!!!

O fim dessa viagem




Força Estranha
(Caetano Veloso)

Eu vi o menino correndo eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho daquele menino
Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei

Eu vi a mulher preparando outra pessoa
O tempo parou pra eu olhar para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada que nunca passou

Por isso uma força me leva a cantar
Por isso essa força estranha
Por isso é que eu canto não posso parar
Por isso essa voz tamanha

Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o sol, é a estrada
É o tempo, é o pé
E é o chão

Eu vi muitos homens brigando, ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada vontade encoberta
E a coisa mais certa de todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
E o sol sobre a estrada
É o sol sobre a estrada
É o sol

Let's Celebrate Another Day of Life

Kathmandu: um sonho realizado.





Fila pra pegar água em Kathmandu


Além dos problemas de água, eles sofrem com apagões de energia, com duração de 6 horas, todos os dias.

O 'Rei' do Nepal

sábado, 10 de maio de 2008

Algumas imagens da caminhada.




O Himalaia



Estava bastante nublado e com uma névoa que não deixava ver muito longe, mas de vez em quando era possível avistar as grandes montanhas.
E a placa do hotel que anunciava ser possivel ver o Everest da janela do quarto...

E agora???

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Voltei...



... e sabe o que descobri?
Que não tenho mais 20 e poucos anos!!!
Achei que não fosse dar conta. Primeiro dia, 8 horas de caminhada, com poucas paradas.
Segundo dia, o mesmo tempo, com muitas paradas e uma perna que não parava de tremer...

Estava nublado e não deu para ver muito bem a cordilheira, mas a sensação de estar perto das maiores montanhas do mundo foi indescritível. Hoje ao nascer do dia, a névoa deu uma chance e pude ver aquele mostro na minha frente... Lembrei muito do tempo em que eu morava em Curitiba e junto com o Miltão e o Luiz íamos sempre para a Serra do Mar. Hoje o Milton é um advogado de respeito, nem sei se ainda se lembra disso. Eu pensei muito nele, lá.

Dormi num Hotel, no meio do nada, que fica há 2,180m de altura, o lugar mais alto que já estive. Jantamos por volta das 18h30min. Quando escureceu ficamos a luz de vela. Um silêncio enorme tomou conta do lugar e fui para o terraço. A noite estava inacreditávelmente linda, cheia de estrelas e uma lua crescendo.

O céu aqui é diferente, as estrelas são mais brilhantes e ficam mais distantes uma das outras... Cantei "menina do anél, de lua e estrela"... e lembrei, com uma dor absurda no peito, do tempo em que eu ia levar uma menina pra sua casa no Batel, em Curitiba...
Olhando para o Himalaia, no pôr-do-sol, na noite escura e no amanhecer tive a certeza que sou um homem de muita sorte, mesmo sozinho tenho a companhia de pessoas maravilhosas que já fizeram a minha vida ter valido a pena.

Namaste!!!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

LIBERDADE NA CABEÇA



Agora são 6:30 da manhã. Vou descer, tomar café, pegar minhas coisas e partir para o Himaláia, para uma caminhada de dois dias pela cordilheira.
Vou sozinho, quero poder olhar para as montanhas mais altas do mundo e saber como serei eu alí diante de tanta grandeza.
Abraço a todos...

Templo Tibetano de Bodhnath





Lugar o o adorável povo do Tibet vem rezar para o fim de tanta injustiça...
Dizem que neste templo, construído no século 14, tem um osso do Buda...
Lugar de muita paz, maravilhoso!

Fotos do Nepal




terça-feira, 6 de maio de 2008

Sob o Céu de Kathmandu


"Ele tinha aprendido o jeito de se confundir com as sombras, sem que o notassem. Tinha se tornado uma sombra à espreita do que nunca era dito claramente, à beira do momento em que não haveria mais nenhum segredo a descobrir e a vida, então, se tornasse crua e visível, por tê-la tocado ele mesmo, não por ouvir dizer"

Caio Fernando Abreu.

O Povo colorido do Nepal.




"Monkey Temple"



AO Marcelo e sua bela infância em Criciúma.

Matching colors


Entrada do Templo Budista Swayambhunath. Um dos maiores do Nepal.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Comemoração do Concurso...


Foi com esse espírito que eu e Érico comemoramos a grande brincadeira que só bons amigos como a gente pode fazer.
Obrigado a todos por entrar nessa conosco. Cada voto que rebiamos era uma alegria, um tirando sarro do outro... Vocês, além de participarem da viagem com a gente nos ajudaram a fazer este trabalho ficar mais lúdico. Obrigado.

Ontem me despedi do Érico, ele foi pra a China continuar o trabalho e eu, depois do Nepal, volto ao Brasil. Ainda é cedo para as considerações finais, mas tive ao lado desse grande fotógrafo uma lição de vida.

Celebramos a cada dia a amizade que nos une e a grande paixão que temos por nossa profissão.

IRMÃO, tenho certeza que o seu livro será um super trabalho sobre os países emergentes e, principalmente, com a visão pessoal de um cara sincero e sério como você. Vai com Deus, CHUKRIYA!!!!!

PS - A foto acima é do Carlinhos (primo da Paulinha), que por coincidência está na Índia e vai para o Nepal comigo.

Proximo destino: NEPAL!!!!



DESCULPA AÍ MILTÃO, MAS VOU CONHECER O NEPAL SEM VOCÊ...
UIIIIIIIIIIP, IMAGINA O TAMANHO DA MINHA ALEGRIA???? KATHMANDU, O QUE VAI SER ISSO MEU?????

NOS VEMOS LÁ GALERA!!!!

Na beira do Rio Ganges... Poxa bicho, vamos parando por ai!!



Fiquei apenas dois dias na cidade, mas cada minuto foi sentido com muita intensidade. Primeiro porque fazia muito calor, cheguei a pegar 46°, e era impossível passar despercebido, caso a cidade não tivesse nada a oferecer - só o calor já seria um evento. Não foi o caso, Varanasi tem tantas coisas que você sai de lá pensando que aquilo tudo foi ficção, não aconteceu de verdade com você...

A cidade existe há mais de 2.000 anos, em algumas partes dela você terá certeza que isso é verdade. Como no labirinto de ruelas sem asfalto, cheios de vacas, carneiros disputando o pequeno espaço com os moradores e, muitas vezes, com um grupo de homens descendo correndo em direção ao rio Ganges, carregando o corpo de algum ente querido que será cremado, num ritual bastante comum na cidade.

É o desejo de muitos hinduísta ir pelo menos uma vez naquele lugar sagrado. Eles não vão só para se despedir de seus mortos. Segundo a religião poder se banhar nas águas sagradas do rio é a possibilidade de se livrar de seus pecados.

Para você entender a cidade imagine um portão (Ghat), com uma escadaria enorme até o rio. São mais de 25 desses Ghat, um ao lado do outro. Ali você encontrará pessoas tomando banho, escovando os dentes, lavando roupas e dando banho em búfalos, além dos rituais religiosos.

Em dois deles, é reservado para cremação ao ar livre de corpos. Eu tinha visto no guia Loneny Planet, quais eram. Deixei minhas coisas no Hotel, tomei um banho, um bom café da manhã e tentei sair na rua. Isso já era quase meio-dia. Quem disse que eu consegui?

Por ser uma cidade muito turística Varanasi é um lugar onde sempre vai ter alguém querendo te passar a perna. Apesar de ter sido avisado pelo guia de viagem e pelas pessoas que encontrei, eu cai em vários contos. Um deles foi o do Hotel.

Com pouco tempo na cidade, escolhi no guia um lugar para ficar perto das principais atrações. Cheguei na estação de trem e uma multidão de motoristas de tuk tuk me abordaram. Pedi para o mais confiável deles, que ele me levasse na Shanti Guest House, até mostrei no mapa. Mas quem falou que foi lá que passei esses dois dias? Para poder receber a propina que o hotel paga por cada hóspede que eles levam, acabei parando no Sandi Guest House, duas letras que fizeram toda a diferença. Um ficava perto, muito perto de tudo e o outro... bom, dá para imaginar onde, né?

Só percebi isso quando, em baixo de um sol de 46°, tentei chegar no rio. O Ganges até que estava perto, mas os lugares que eu queria visitar... longe, mais de uma hora de caminhada. Voltei pro hotel, comprei uma água e fui tentar descansar um pouco. Quando cheguei no quarto, no terceiro andar do prédio, sem elevador, a garrafa de água mineral de 1 litro já estava com uma temperatura própria para se fazer chá. Como este não tinha sido o propósito, tomei aquela água quente, dentro daquele quarto abafado. Dormi umas duas horas e acordei suando. Sai de novo e comecei a conhecer todos os Ghat.

Eu estava tranqüilo, o calor já não me incomodava tanto, tinha feito algumas fotos, rezado um pouco. A raiva de ter sido enganado já estava passando, quando, sem perceber direito o que estava acontecendo me vi a menos de 50 metros do local onde 7 corpos humanos queimavam. Eu estava tão distraído que mais alguns passos eu entrava no lugar que é estritamente reservado para a família.

Quando me dei conta do que estava acontecendo tive uma reação que nem eu mesmo esperava. Sou um cara que já viu bastante coisas na vida, mas não estava preparado para aquilo. Eles colocam o corpo envolto apenas num tecido alaranjado, em cima de algumas madeiras secas e cobrem com mais madeiras.

Existem alguns grupos de mortes que não permitem a cremação: de crianças até 11 anos, mulheres grávidas, leprosos e pessoas picadas por serpentes, que para eles é um animal sagrado. Esses mortos, no entanto, o ritual é amarrar uma pedra no pé, colocar o corpo num barco, ir até o meio do rio e atirá-lo na água.

Ouvi essa, entre outras explicações de um senhor que me levou para uma espécie de balcão, no nível superior de onde estavam as famílias dos mortos e me falou, enquanto víamos 7 corpos serem incinerados, bem ali a poucos metros de distância.

Vocês devem estar se perguntando sobre o cheiro. Foi a primeira coisa que indaguei, pois eu não estava sentindo nada, além do vento quente e do cheiro de madeira queimando. A resposta que ouvi foi de que Shiva (O Deus deles) não permitia o cheiro forte de corpos queimados perto do rio Ganges. Disse também que em qualquer outro lugar que fizessem isso o cheiro seria insuportável.

Só homens participam do ritual. Uma mulher, carregada por duas outras – todas usando roupas coloridas, entrou no lugar, foi levada até o rio, parou perto da fogueira onde o corpo de seu esposo terminava de queimar e saiu novamente.
Ninguém chorava. Com orgulho o homem que me explicava e que depois quis me levar $200 (teve que se contentar com 200 rúpias), perguntava como era o enterro na minha religião, se tinha aquela paz que víamos ali. Todos sabemos a resposta...

Sai dali quando recebi uma nuvem de cinzas na minha cara. Depois que os corpos queimam, eles juntam as cinzas num monte e dois homens vão com uma espécie de peneira resgatar as jóias, que nunca são retiradas dos corpos. Naquele monte de cinzas comunitária o que é encontrado vai para uma entidade em Varanasi que ajuda a pagar as despesas com cremação de pessoas sem condições para isso.

Quando começaram a mexer nas cinzas e recebi uma boa quantidade, senti que já tinha sido o bastante.
É extremamente proibido fotografar o ritual. Portanto ele me autorizou a fazer essas duas imagens, que compartilho com vocês. Sai dali, depois de ter que negociar a ajuda que meu coração bom daria por ter assistido uma cerimônia sagrada.

Ainda vi outros rituais desses, na noite do mesmo dia e na madrugada do outro. Na tarde em que estava indo para a estação pegar o trem para Delhi, vi um grupo de homens, bem perto de mim amarrando uma pedra no corpo de um garoto de não mais de 8 anos... Acho que não precisava encontrar mais nada.

Não vi tristeza na cidade. No restante do tempo que passei por ali, vi famílias inteiras se banhando naquele rio que eu nem tive coragem de colocar a mão, vi pessoas meditando, entrando em contato de uma maneira ou outra com o sagrado.
Do meu jeito, também tive boas experiências. Como na madrugada do outro dia, quando acordei para ver o sol nascer dentro de um pequeno barco, navegando por aquele rio, assistindo a cidade que há tantos séculos recebe a energia de pessoas que vão lá para se conectar com o divino, o que não está disponível assim, tão fácil, no dia a dia.

Depois que sai do barco, fui num lugar alto onde vi algumas pessoas meditando, tentei fazer o mesmo. Peguei o i-pod e com a vista daquela cidade incrível, pensei em muitas coisas boas da minha vida. Um garoto de uns 6 anos se aproximou. Coloquei um dos fones no ouvido dele e vi um rosto pequeno se transformar de emoção. Ele olhava para o horizonte como se pudesse enxergar a própria música que ouvia. Quando começou a tocar um ritmo eletrônico, ele deu um sorriso enorme e começou a mexer a cabeça para frente e para trás, como a gente fazia nas pistas de danças no final dos anos 80. Fiquei muito emocionado nessa hora. Poucas vezes chorei na viagem, mas me vi prestes a me descontrolar enquanto o garoto, que nem o nome eu sei, se perdia, concentrado na música que o fascinava...