quarta-feira, 30 de julho de 2008

Frida Kahlo e Luta Livre


Mais México que isso, só se fosse no dia dos mortos...

Gostei muito de visitar a casa desta artista que gosto tanto. Foi uma boa oportunidade de relembrar boas coisas. A primeira vez que ouvi falar dela foi lá pelos anos 90. Eu estava na faculdade e as 'cores de Frida Kahlo' acabou sendo um ambiente facilmente transitável por mim e pela Cristine, uma das irmãs que a vida me deu de presente.

Quando fiz minha primeira viagem ao exterior, pude ver, pela primeira vez, um dos quadros coloridos de Frida e lembro que não via a hora de contar isso pra Cris, mas como não havia emails, tive que esperar a volta para relatar a emoção em ver de perto uma obra de nossa artista preferida. Hoje a Cris, que está fazendo mestrado em artes e mora na Europa há 10 anos, tem lá seus artistas preferidos, muitas coisas já se passaram mas quando entrei na casa de Frida Kahlo me senti quase como um adolescente.



Outra irmã que estava presente comigo na visita a casa azul era a Milla Jung, uma das grandes mulheres de minha vida, mas que conheci um pouco depois da Cris. Tenho até hoje guardado um postal que ela me mandou com uma foto linda da Kahlo, quando eu morava em Londres e ela em Nova York. A Milla já visitou o México e esteve nesta casa antes de mim, não sei ao certo se eu estava tão presente, mas isso não importa, pois ela também estava comigo andando pelos comodos da memória enquanto visitava esta bela casa de uma das grandes pintoras do século XX.

No museu é possível ver bastante das coisas dela, mas poucas obras. Senti falta mais em 2005 vi uma exposição inteira dedicada a Frida Kahlo na Tate Modern, inclusive um dos quadros que mais gosto.
Foi nesta casa que Trotsky e sua esposa moraram quando chegaram, exilados, ao México.
Com certeza as cores vibrantes desta artista tão mexicana está me ajudando a entender este país.



A noite fomos a arena do México ver uma luta livre. Foi uma delícia ver aquilo que, ao contrário do que eu pensava, é uma grande brincadeira.



Ali dentro pude entender um pouco mais o Chapolin Colorado e seus amigos. Tudo parece encenado, como num circo, mas foi emocionante ver a torcida. Tinha gente de todas as idades torcendo por seus mascarados preferidos. Muitos torcedores usavam máscaras iguais a de seus ídolos. Atrás de mim tinha uma mulher tão empolgada que gritava tanto, acho que estava expurgando vários fantasmas de seu dia a dia.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Cidade do México



A comida mexicana me pegou. Passei bem mal ontem, ao ponto de não poder sair. Perdi uma tourada, mas pelo que o Érico contou e mostrou nas fotos tem bastante violência, eles mataram 6 Touros, uma carnificina só.
Hoje já estava bastante disposto e passei o dia na rua. As meninas da ong continuam nos ajudando e, principalmente a Cláudia tem dado uma força danada.

Assim que sai pela manhã, vi jovens carregando a imagem de um Santo. Sempre ouvi dizer que este país é bastante religioso, vi isso em Oaxaca também, mas acabei perguntando se tinha algum motivo especial para tantas imagens pelas ruas. Descobrimos, pois as meninas também não sabiam, que todo o dia 28, os devotos levam suas imagens de São Judas para benzer. A igreja dedicada a ele fica perto do hotel e no dia do Santo, 28 de Outubro, há uma grande festa, uma das grandes celebrações a Santos, no México.



A Cláudia já fez bastante trabalho voluntário e, com muito orgulho e amor, nos mostrava sobre seus projetos e nos contava de suas histórias. Ela trabalhou durante muito tempo com crianças de ruas e teve que pagar caro por suas convicções. EM uma situação precisou denunciar um grupo de policiais que estavam envolvidos com o tráfico e, é claro, ouve vingança contra ela. Um dia saindo do metrô prenderam-na, foi espancada e por pouco não morreu. Esta foi apenas uma das histórias de quem paga caro pelas escolhas que faz na vida, mas não desiste de ajudar a quem está tão desamparado neste mundo.

É bonito ver o amor que as pessoas demostram por ela. Com o coração aberto tenho procurado aprender com essas pessoas a ser menos egoístas.



Encontramos um senhor que mora na rua. Ele carregava um violão e logo que chegamos começou a cantar. Uma voz belíssima, afinado, cantou mais de três canções direitinho, sem errar nada... As músicas eram bem triste, falavam de amores não correspondidos, abandonos. Numa delas tinha uma frase que dizia mais ou menos assim: agora estou vivendo na ruas, enquanto você está nos braços de outro.
Para quem foi criado numa família onde o avô e o pai sempre estava com seu violão e acordeon animando os encontros familiares, foi um momento de muita emoção.



Passamos por uma praça onde ficam os Mariates, aqueles cantores que se apresentam, com um traje típico que lembra a roupa dos toureiros, em festas ou pelos bares e restaurantes. Vi em algumas expressões mais tristeza do que no cantor de rua.



Almoçamos, lá pelas 5 da tarde, num bairro chinês. Depois subi num mirante com uma bela vista da cidade e terminei o dia no Zócalo, na enorme praça da constituição.



Assim o México vai se desvendando, e, aos poucos, o que antes eram idéias vão se transformando em imagens, aprendizados, enfim: uma viagem!!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Chove em Oaxaca



Nosso último dia em Oaxava foi de muito sol. Quando saimos do acampamento pegamos um taxi para o aeroporto e uns 10 minutos depois encontramos uma chuva forte. Parte do céu estava com núvens carregadas e a outra parte azul com algumas núvens brancas, enormes... O taxista devia estar meio enamorado, pois suas músicas eram de cortar o coração...
Conforme nos aproximavamos do aeroporto tive uma boa oportunidade para reflexões profundas, sobre esta vida que venho levando, sobre as conquistas que tenho tido, quem me acompanha e compartilha isso tudo comigo... Esta foto, simples, mas muito significativa, confirma minha satisfação com a vida que escolhi.

domingo, 27 de julho de 2008

Guerreiros sem armas



Em nosso último dia em Oaxaca tivemos a possibilidade de visitar uma ong brasileira que está fazendo um trabalho muito interessante por aqui. Chegamos nos acampamentos perto do meio dia. Um grupo de aproximadamente 60 pessoas estavam reunidos em torno de uma maquete. Eram moradores da comunidade e no meio deles jovens, entre 18 e 30 anos, da Universidade da Terra da cidade de Oaxaca.
O que eles fazem basicamente é diagnosticar os problemas da comunidade e elaboram projetos para ajudá-los. Entre as pautas estão os problemas referentes a falta de água, moradia e ajudam-os a formar uma idéia de trabalho em grupo.



Como uma ong internacional, ali trabalham jovens de vários países: um dos organizadores é um rapaz de Santos, o Edgar, mas pude conversar também com a Anna, uma inglesa que depois da América do Sul vai passar um tempo na China; uma Belga que gosta muito de nossos lados, já fez uma viagem que durou 6 meses saindo do México e Chegando no Rio de Janeiros, com exceção de um pequeno trecho na Venezuela, que ela precisou pegar um avião, o resto do percurso foi feito todo de ônibus.



Dona Carmen é uma das moradoras da comunidade mais simpática. Ela nos acompanhou, contou dos progressos, da alegria em ver sua vida melhorando, nos levou com orgulho, para sua casa e mostrou o pequeno barraco onde morava antes desse pessoal chegar por aqui, nos apresentou sua filha e fez ela nos mostrar seus projetos que ajudam a comunidade, um vídeo sobre todas as tribos urbanas...



Quanta beleza nesses gestos. Sai dali com a alma em paz, sem falar da esperança que senti quando deixamos a comunidade rumo ao aeroporto. É fantástico poder saber que existem pessoas interessadas em ajudar o próximo.

A Colina das Comadres



Imagem do terraço do Hotel em que fiquei em Oaxaca. Ali pude reler alguns contos de um escritor mexicano que gosto muito, Juan Rulfo.

"Depois os Torricos voltavam. Desde antes de chegar avisavam que vinham, porque seus cachorros saíam na correria e não paravam de latir até encontrá-los. E só pelos latidos todos calculavam a distãncia e o rumo por onde iriam chegar. Então as pessoas se apressavam para esconder suas coisas outra vez.
Sempre foi assim, o medo que os finados Torricos traziam cada vez que regressavam a Colina das Comadres".

Do livro de contos: Chão em Chamas.

Desfiles em Oaxaca




Parece Olinda, mas estou no México.



sábado, 26 de julho de 2008

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Do outro lado



Essas duas mulheres são irmãs, tem bastante filhos pequenos e uma história em comum. Seus maridos, como tantos outros homens do México, foram trabalhar nos Estados Unidos. Elas chegaram a receber notícias deles, sabem que ambos conseguiram atravessar a fronteira e que estão trabalhando, como tinham planejado quando as deixaram, mas há mais de 2 anos eles não mandam mais notícias, uma coisa comum aqui nesta terra onde a maioria dos homens partem para o Outro lado, como eles chamam aqui os que vão trabalhar no país vizinho.

Fotos de Sierra Mixteca




Sierra Mixteca



Mal deu tempo para tomar o café da manhã e o Iván, responsável pela ong no estado de Oaxaca, estava na pousada. Pegamos a Mariana e a Cláudia, as meninas que trabalham na capital e partimos para nosso compromisso da quinta-feira.

Este é um dos estados do México que tem mais problemas. A população é muito pobre, vivem em povoados onde cultivam entre outras coisas feijão e milho.

Depois de três horas de viagem chegamos na Sierra Mixteca para visitarmos alguns povoados que a ong tem projetos. Um dos principais problemas deles, e do país em geral, é a falta de água. Aqui, mais do que em qualquer outro lugar que eu tenha ido, dá para ver que eles estão adiantados em, ao menos tentar incentivar a população desse problema mundial. Por exemplo, as torneiras teem um dispositivo, parecido com os recipientes de sabonetes líquidos em banheiros públicos, você precisa apertar de baixo para cima, para que a água saia, e quando solta, o dispositivo bloqueia a saída do líquido, um maneira bastante eficaz para evitar o desperdício.

A ong ensina a população a construir cisternas para aproveitar a água de chuva e constrói banheiros secos, do lado de fora das casas, onde não precisam usar água.

Chegando no povoado de San Sebastian Nicananduta, fomos primeiro encontrar o presidente da comunidade. Entramos num prédio ao lado de uma bela igreja e encontramos uma sala meio escura com cinco homens sentados perto de uma mesa de madeira. Todos usavam chapéus e, com exceção de dois, eles estavam visivelmente bêbados.

Pudemos fotografar sem nenhum problema. Entramos nas casas, conversamos com pessoas que nos contava um pouco de suas vidas. Em quase toda família há ao menos um integrante que tenha ido para os Estados Unidos trabalhar. Praticamente todos atravessaram a fronteira de forma ilegal, se colocando aos inúmeros risco da travessia.

Depois deste povoado fomos ainda a San Jose Monteverde e a Guadalupe Vista Hermosa. A paisagem era deslumbrante.

Estávamos numa camionete grande e por um bom tempo eu e o Érico fomos na carroceria, com toda aquela natureza na nossa frente, sem janelas que nos atrapalhava o contato com o vento forte e a liberdade que tanto préso.

Fotos de Oaxaca




Oaxaca

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Chegamos na cidade do México na manhã de quarta-feira, Como tivemos que esperar em São Paulo a saída dos vistos, nossa programação aqui ficou um tanto apertada. Tem uma Ong nos dando assistência, com uma série de coisas programadas para fazermos. O pessoal do ‘Fonfo para La Paz’, estava nos esperando e sem que solbessemos já tinham comprado nossas passagens para Oaxaca, uma cidade que fica a 1 hora de vôo da Cidade do México.

Desde que cheguei ao país este está sendo o primeiro momento de tranquilidade, isso por que não fui visitar uma comunidade que fica aqui perto. Vou encontrar o Érico e o pessoal da ong depois do almoço. Estou agora num café, em frente a Igreja de Santo Domingo, uma fantástica construção do século XVI, onde testemunhei, no primeiro dia, um grupo de velhinhos dançando, ao som de uma banda local, com um gingado de dar inveja a qualquer lambadeiro por ai.

Já na primeira tarde, saímos para conhecer a cidade. Eu estava muito cansado, mas meu animo foi melhorando a cada quadra. Saímos despreocupado pelas ruas. Nossos anfitriões tinham uma reunião e nos deixou soltos. Partirmos então para nosso primeiro contato com o México.

O cansaço desapareceu quando entrei num mercado, aparentemente lembrava bastante os mercados públicos do Brasil, principalmente um que visitei em Recife o ano passado. Mas quando entrei num corredor fiquei boquiaberto com o que via. Uma confusão danada, com ruídos que não dava para identificar uma palavra, uma luz azul, que na verdade era o efeito dos raios do sol filtrados por um vitral no teto. A atmosfera de filme dos anos 50 ficava ainda mais forte devido a nuvem de fumaça que saia das dezenas de grelhas, nas barracas que vendiam carne e linguiça defumada.

Depois descobri que isso é um problema sério de saúde em Oaxaca. É o costume das pessoas, principalmente as que vivem no campo, defumar as carnes. Mas este contato direto e frequente com a fumaça tem provocado muitos problemas respiratórios e de visão.

Passamos um bom tempo ali, meio que aturdidos com o que vinhamos.
Como naquele primeiro dia na Índia, deixei de lado qualquer cançaso e mergulhei na viagem que estava de fato começando.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O Processo, Hamlet e uma viagem adiada.

“Somos esses atores, essas atrizes, dentro desse espelho que nos reflete e reflete o mundo.”

Da peça Hamlet, de William Shakespeare, montada por Aderbal Freire Filho.

Nosso bilhete aéreo estava marcado para partirmos de São Paulo, rumo à Cidade do México, no sábado, dia 19 de julho. Na sexta-feira passamos por uma série de acontecimentos que fez eu me sentir como um personagem do livro de Kafka, mais especificamento do livro ‘O Processo’. Para quem conhece a obra sabe que coisa boa não foi.

O México está exigindo visto de brasileiros. Assim que fiquei sabendo da viagem, comecei a providenciar os documentos que constavam na lista do site do consulado, site este que se tornou a única maneira de comunicação entre você – que deseja visitar o país – e o consulado – que vai dizer se você é ou não bem-vindo.

Os problemas começaram ai, uma das exigências é o passaporte com validade de 01 ano. Quase uma piada, não? Qual outro país pede isso? O passaporte brasileiro só vale por 05 anos, quando você se depara com uma coisa dessa, seu tempo, que já é curto, acaba ficando ainda menor. Pois bem, eu estava entre os brasileiros que não tem um passaporte válido por 01 ano. O meu vencia em fevereiro de 2009.

Como já disse, não tem como você falar com o consulado. Se quiser, entra no site, lê pacientemente todas as informações ali presentes e, caso sua dúvida ainda não conste na lista que eles acreditam serem as mais comum, você pode mandar um email. Faça isso... e espere a resposta!!!

Fui então renovar meu passaporte, mas descobri que, devido a mudança para o novo passaporte brasileiro, tinha uma multidão de futuros viajantes fazendo o mesmo. Agendar uma entrevista? Só para agosto.
Resumindo bastante a história, enquanto eu providenciava a renovação do passaporte o consulado reformulava suas regras para emissão de visto.

Umas 3 semanas depois de começar a renovar o passaporte, consegui finalmente o novo documento. Voltei a tentar o custoso visto. Para minha surpresa não era mais necessário um passaporte com prazo de validade tão extenso, 6 meses agora é o suficiente. Porém, entre as novas normas do consulado Mexicana era um agendamento para entrevista, antes era só ir lá bem cedo, com os documentos exigidos e tirar o visto.

Entrei no site para marcar uma entrevista, mas a data disponível era 18 de julho e minha viagem marcada para 19 de julho e estava escrito que não antecipam a entrega de visto. Bom, mas e a minha história?? Pois é, só você que está lendo esse post é que ficará sabendo dela. A pessoa que me atendeu no guichê do consulado me respondeu assim: não estou interessado em seus problemas... antes mesmo que eu chegasse no meio do relato.

Sem poder perguntar, pedir e explicar que a culpa de estar pedindo o visto tão em cima da hora era da burocracia deles, tivemos que no contentar em remarcar a viagem para o dia 22 de julho.

O Hamlet da história foi a maneira que encontrei para aliviar a tensão e frustração. Passei na Faap e consegui comprar 02 ingressos para a peça, com o Wagner Moura. Já gostava desse ator, mas vendo sua atuação vivendo o papel do príncipe da Dinamarca, umas das peças de teatro que mais gosto, foi como uma visita ao paraíso sagrado que só pelas portas da arte se chega.

Tem uma frase do escritor José Saramago, escrita aqui mesmo nesse blog pela Cris, em um dos posts, que diz assim:
"Até escrever o `O Evangelho Segundo Jesus Cristo´, eu estive descrevendo uma estátua. A partir de então, tratei de me introduzir na pedra".

Li isso em Mumbai, logo no começo da outra viagem. Esse passou a ser nosso – meu e do Érico - lema, como fotógrafo.
Uma das certezas que tive vendo a peça é a de que esse cara conseguiu ‘entrar’ na pedra.

Amanha eu e o Érico partimos para mais uma viagem, dessa vez mais perto, mas para um lugar tão interessante quanto os anteriores. A oudiséia do visto tenho certeza que foi um caso isolado. Continuo na busca para poder fazer o melhor de mim, nessa profissão fantástica que escolhi. Continuo compartilhando com vocês minhas experiências de viagem.
Vamos?