sexta-feira, 25 de abril de 2008

Despedida de Calcutá.



Estou neste momento no aeroporto de Calcutá, esperando o vôo que nos levará a Delhi, capital da Índia. Diferente do de Mumbai, este aeroporto lembra mais uma rodoviária dessas antigas no Brasil. Acabei de passar pela segurança, motivo sempre de tensão, mas aqui, com esse povo gentil, foi mais uma das boas experiências com trocas de cordialidade. O policial até que tentou fazer uma cara feia, quando o raio-x identificou que eu levava alguns itens suspeitos. Antes de abrir a mala ele pediu se era câmeras, quando disse que sim, ele perguntou de onde eu venho. Ao ouvir um Brasillllllll, pronunciado bastante redondo, ele deu um sorriso e me mandou embora.

Tem sido assim desde que chegamos no país, mas Calcutá ficará marcado como o lugar onde realmente me senti na Índia. Como é possível alguém gostar tanto de uma lugar tão poluído, com um trânsito ainda mais confuso que o de Mumbai? Todas as noites quando voltávamos pro hotel, a sujeira no ar chegava quase ao insuportável. Os carros e ônibus são movidos a óleo diesel e não há nem um controle de poluição. Rodízio aqui?? Nem pensar!!

Os táxis, aqueles típicos amarelos, da marca ambassador, são até mais confortáveis que os de Mumbai, onde eu, com meus mais de 1,80m tinha que ficar meio curvado. É muito barato andar de táxi em calcutá, várias vezes fizemos trajetos de mais de uma hora de duração e não custou mais que o equivalente a R$ 10,00. Tentamos visitar a fábrica do ambassador, mas estava fechada. Porém não tem ar condicionado nos carros e sempre é necessário andar com a janelas abertas, respirando, muitas vezes, perto do carburador dos ônibus.

A cidade é úmida e muito quente. Acho que eu nunca transpirei tanto na vida. Evitamos sair nas ruas no horário mais quente, mas algumas vezes tivemos que passar muito calor. A roupa ficava manchada de sal, de tanto que suava.

Ontem voltando para o Hotel na pior hora do dia, olhando para uma paisagem catastrófica e respirando o ar mais impuro que meus pulmões já sentiram, eu me perguntava em silêncio, porque eu estava tão triste por deixar um lugar desses.

A resposta é bastante clara pra mim, foram as pessoas que me fizeram amar tanto Calcutá. Não só as que eu tive a oportunidade de conhecer, mas o povo em geral, cada sorriso, gentileza, a tranqüilidade dos motoristas de táxis, das pessoas que fotografei, que cruzei pelas ruas...

As maiores aventuras continuaram acontecendo no trânsito, os motoristas vão se metendo aonde tem lugar nas ruas (inclusive na contra-mão), buzinam sem parar, até se xingam, mas nunca tiram do rosto aquele olhar lânguido, concentrado e quando você diz alguma coisa, mesmo que eles não entendem, respondem com um leve aceno de cabeça, fecham os olhos e dão um super sorriso. Quero ver você resistir a isso!!!

Tive a sorte de fazer um amigo em Calcutá, como já contei. No dia de sua folga, Mukul me levou para conhecer a cidade que ele gosta. Andamos aquele dia, como andamos. Mas foi a partir daí que comecei a me senti inteiro na Índia e de não querer mais voltar para o Brasil. Apesar de todo o receio não tive como evitar o convite para provar sucos, doces, bolinhos, entre tantas coisas que me foram oferecidas naquele passeio. Por mais suja que parecia a barraquinha, por mais dúvidas que eu possa ter tido sobre a origem do que eu ingeria, mais saboroso ficava, ainda mais que, logo em seguida, quando ele percebia que eu tinha gostado, vinha o gesto na cabeça, o fechar dos olhos, o sorriso...

Ontem, depois de uma visita especial ao convento de Madre Tereza, fomos conhecer a Universidade de Calcutá. Tivemos a sorte de cair na graça da Professora Doutora Tapati Basu, que coordena o curso de comunicação. Ela nos convidou para almoçar com ela e colocou um professor de jornalismo a nossa disposição. Não dá para descrever a atenção que tivemos dessas pessoas. Parecíamos duas celebridades, todo mundo nos olhando, sorrindo... alguns alunos viam falar conosco, pedir para tirar fotos.

Tiramos bastante fotos. Quando entravamos nas salas, os alunos ficavam em pé, como fazíamos ai no Brasil no primário. Lembra disso?? Numa das salas, quando estávamos nos despedindo o professor falou brincando que o Érico parecia com o Brad Pitt, a sala inteira caiu na gargalhada...

No almoço nos foi oferecido uma espécie de torta folheada vegetariana, khasta Kachon e a sobremesa um doce branco meio feio mas com gosto muito bom, o sandesh, depois saímos do prédio, uma construção antiga do fim do século IXX, que lembrava em muito a Universidade Federal do Paraná, aonde tive a sorte de estudar nos anos 90, e fomos tomar chá com leite na rua. Nem precisa dizer que o professor Uma não nos deixou pagar nada.

Já estávamos satisfeito, mas ainda tinha muita coisa pela frente. A professora dispensou nosso amigo Uma Shankar para nos acompanhar por Calcutá no resto de nosso último dia na cidade. Ele nos levou então ao templo que ele costuma ir toda semana, o Dakshineswar Kali Temple. Pegamos trem – fica meio afastado da cidade, mas lá dentro, acompanhado por uma pessoa muito próxima das autoridades do lugar, pudemos circular com liberdade.

Deixamos os calçados na entrada. Ele nos ensinou a fazer a purificação com a água e disse que poderíamos ficar livre para rezar do nosso jeito. Quando estava dentro do templo, oferecendo rosas a uma imagem que eu não fazia idéia quem era, me passou pela cabeça, de uma maneira muito forte e presente, as pessoas que mais amo e desejo o bem nesse mundo. Depois entendi que nesse momento eu estava fazendo uma das orações mais fortes e com mais fé desde sempre...
Como sentirei saudades de você Calcutá.

PS - CONTINUEM VOTANDO NA MELHOR FOTO DO CONCURSO, POR FAVOR!!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Renato. Que grande prazer vc está proporcionando a mim e a família Melo Negrao e Sao José. Os comentários sao ótimos(parece q a gente está presente). As fotos maravilhosas, com angulos, sombras, enquadramento,etc... Abraçao. Wilson Negrao