segunda-feira, 14 de abril de 2008

Despedida de Mumbai






Faz calor em Mumbai! Esta foi a primeira grande constatação que tive sobre a cidade, quando, enquanto esperávamos o guia no aeroporto internacional da cidade. Era de madrugada e mesmo assim os mosquitos e o clima abafado nos deixou assustado. Pegamos enfim um táxi, depois de 2 confusas horas esperando. O caminho até o hotel foi de uns 40 minutos. Até agora me pergunto se aquilo que vi foi mesmo real. Claro que foi, sei disso, mas preferia que tivesse sido parte do delírio de quem viajou tantas horas até chegar na Índia.

Moro em São Paulo, vejo muita gente sofrendo por lá. Estive em Angola, na África, no ano passado e também vi coisas que preferia não contar. Mas neste primeiro contato com o país parecia que era a primeira vez que eu me deparava com a impotência sobre as condições de moradores de ruas. Vimos uma grande quantidade, eles pareciam agrupados, formando pequenas sociedades, quase uma cidade, com espaço para circulação entre eles. Como, se no meio daquela multidão de pessoas dormindo, naquela madrugada de domingo, houvesse uma organização, falamos ao mesmo tempo: um mar de gente! Me senti um colonizador escroto depois disso. O Érico me olhou assustado e tive que aceitar que era aquilo mesmo o que eu via.

O transito.
Não acho que pena seja um sentimento digno e no outro dia eu passaria a me surpreender. Não sei explicar, mas fiquei completamente encantado com as pessoas nessa cidade. Eles tem uma serenidade difícil de explicar. Quando saímos para nosso primeiro dia na cidade, fazia mais calor do que eu poderia esperar. O trânsito que eu já sabia ser caótico se mostrou um programa para quem está muito afim de adrenalina.

Não sei ainda, mesmo depois de 8 dias na cidade como é possível, por exemplo uma moto entrar na frente do táxi em que estávamos, numa velocidade, vai lá, de uns 70 Km por hora, não olhar para o lado e continuar, sabe Deus como, em frente. Tudo bem que fechei o olho e me espremi no pequeno e apertado banco dos táxis pretos e amarelos de Mumbai, mas aquilo é um milagre, na verdade o mais recorrente de todos eles. Como quando vi um ônibus vermelho vindo por trás, iluminando meu amigo, enquanto tentávamos negociar uma corrida com um taxista que não falava inglês. Vi o Érico num contra luz e mal tive tempo de avisá-lo. Como ele saiu dessa? Sei lá, estava de olho fechado também... Essas foram apenas duas das situações em que me senti como numa montanha russa.

Eles buzinam muito, um fecha o outro, entram sem avisar, mas não vimos nenhum acidente, ninguém xingando, vai lá, alguns até falavam uns palavrões, que na serenidade daqueles olhares parecia um alento - o outro motorista olhava e os dois riam. É um caos mesmo, por mais que você já tenha ouvido falar, mas há bem mais leveza no meio disso tudo do que em qualquer cidade grande do Brasil.

Comida.
Quem me conhece sabe que adoro comer. Já tive alguns apelidos, muitos deles relacionados a comida. Mas uma das coisas que tenho menos pensado aqui é isto. Hoje até fizemos uma refeição bem legal, indiana, digamos assim. Nos outros dias as tentativas foram frustradas: muita pimenta, falta de certeza com a higiene do lugar, calor é claro, influência do que víamos pelas ruas sujas da cidade.

No dia em que visitamos Dharavi, comemos junto com os moradores, não exatamente na favela, mas perto dali. O restaurante estava cheio de moradores locais, eles comiam com as mãos e quando pedi talheres (desculpe, fiz isso!!) o guia me disse sério e direto, essa colher que você tem aí é o suficiente. Acatei, é claro!! Quando acabou a espécie de bandeja, dessas que tem em restaurantes universitário, eles passaram a servia a comida em verdes e lustrosas folhas de bananeiras. O guia olhou orgulhoso e disse, não é o máximo esse costume, depois é só enrolar e jogar para as vacas, não produz lixo. Você seria capaz de discordar? Pois eu também não!!

Voltamos para ‘casa’ hoje determinado a não jantar. Passamos antes no restaurante do hotel para, entre um copo e outro de kinksfisher, fazermos um balanço da primeira semana de trabalho. Dei de cara com um buffet que parecia muito saboroso. Tinha um prato preparado com quiabo e ervas, chamado Brindi Bhurji. Não gosto de quiabo, mas estava uma delícia, e o Murg do Pyaza, uma deliciosa galinhada apimentada e cebolas vermelhas, hum!!! Acho que fiz as pazes com meu estômago. Não tinha a cerveja, muitos lugares aqui não podem vendê-las, mas jantamos maravilhosamente bem, enquanto Leonardo DiCaprio morria congelado ou dizia “If you jump, I jump, em Hindi, é claro.

Fotografia.
Não é só a Índia que tem me encantado, e sim a possibilidade de estar 100% ligado em fotografia. Conheci o Érico num curso de pós-graduação. Desde então nossa amizade é bastante pautada sobre a fotografia. Nestes dias temos conversado muito sobre nossa profissão. É comovente ver o amor que ele tem pelo que faz, vocês podem conferir isso no blog: www.pelomundo.blogsport.com. Entramos numa espécie de estado de meditação quando estamos com a câmera nas mãos.

Gente.
Com certeza o que mais me impressionou, emocionou e me deixou feliz aqui foi o contato com as pessoas. Eu imaginava que quase todo mundo falava inglês, o que não é verdade. Mesmo no hotel, hoje por exemplo, precisei ligar para pedir que viessem buscar nossas roupas sujas e não consegui me fazer entender.
É raro pegar um taxista que fala inglês. Dois dias atrás resolvemos atravessar um viaduto enorme, uma espécie de minhocão que tem em Mumbai, para fazer umas fotos do bairro muçulmano visto de cima. Sabíamos que não podíamos andar lá a pé, mas fomos mesmo assim. Tomamos o cuidado necessário, um cuidando do outro. Depois de um aproximadamente 1 Km e de várias imagens feitas um policial nos parou. Eram dois numa moto. Nenhum falava inglês mas nos trataram com muito respeito. Voltamos e paramos o primeiro táxi para nos tirar dali.

Bollywood.
Fica em Mumbai a maior indústria de cinema do mundo. Isso mesmo, você nunca tinha ouvido falar? Eu também até ler o livro do Zeca Camargo sobre a volta ao mundo do fantástico.
Fomos lá, passamos o dia com um guia, um ex-ator, que nos contou que sempre fazia o bad boy, ou algum mafioso do filme. Os caras produzem mais de 900 filmes por ano, além de seriados, novelas, comerciais.
Visitamos 3 sets de filmagem, falamos com as atrizes, assistimos aos diretores (com lencinho da bandeira do Reino Unido na cabeça) darem pit - que comedia foi isso!!!

Shukriya.
Nosso hotel fica numa região de muitos mulçumanos. Sei que já aconteceram coisas sérias entre eles e os hinduístas, mas aparentemente eles compartilham o mesmo espaço em paz.
Amanha bem cedo pegamos um avião para Calcutá. Temos claro que foram dias importantíssimos para nossas carreiras e não saberia enumerar todas os ganhos que tivemos. Por isso é hora de comemorar, de agradecer a boa oportunidade de estar vivendo uma coisa que sempre quis. Me despeço de Mumbai com uma das coisas que aprendi aqui, o respeito pelo outro e em bom som digo a palavra que mais tenho usado para agradecer a cada gesto de ternura desse povo: SHUKRIYA!!!

4 comentários:

Daniela Valverde disse...

Rê, quanta coisa nova e boa você está vivendo né? Entendo um pouco o que você fala sobre "entrar em transe" quando está fotografando. Sinto isso quando escrevo um texto, um conto, uma crônica. Quem me vê enquanto estou produzindo diz que meu rosto se modifica, fico transfigurada. Acho que é a expressão sublime de quem faz o que gosta!

Saudades amigo!

beijos

Dani
1daystand.blogspot.com

Milla Jung disse...

Bela despedida

beijos,
MIlla

Marcos Corrêa disse...

Que tal um texto sobre o equipamento mais importante d eum carro na India: a Buzina?
Bjos

Renato Negrão disse...

Marcos, obrigado por todos os recados, emails me encorajando, valeu amigo, te adoro e obrigado por tudo.
Olha dá pano pra manga sua sugestão. Vou fazer.
Bjs