quarta-feira, 30 de abril de 2008

AVISO AOS LEITORES.

Meus Caros,
hoje a noite viajo para Varanase, uma das cidades mais sagradas da India. O lugar aonde eles cremam corpos na beira do Rio Ganges. Serao 13 hora num trem dormitorio, sem ar condicionado...
O Erico ficara aqui em Delhi e nos encontraremos no sabado. Portanto resolvemos prorrogar as votacoes ate sexta-feira a meia-noite ai no Brasil. Faremos as comemoracoes no sabado a noite e contaremos quem fez cada foto.

Estou indo com uma muda de roupa e a camera, mas escreverei minhas impressoes sobre este lugar que encanta muitos viajantes e colocarei aqui em breve.

Abraco a todos e ate sabado!!!!

PS - Estou neste momento numa internet cafe, num bairro sujo de Delhi. O teclado velho foi pintado de branco para ajudar o viajante a encontrar as letras e formar algumas palavras... nem sinal de acento...

Cow Parade




Quem mandou nao nascer vaca!!!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Casamento a Indiana, a noiva.






Ontem a sorte literalmente bateu na nossa porta. Estamos hospedados um Hotel muito bom em Delhi, um 5 estrelas. De manhã na piscina sentimos uma movimentação estranha. Logo ficamos sabendo que teria um evento particular a noite e, obviamente, os hóspedes não poderiam participar.

Já era por volta das 7 da noite, acompanhávamos a movimentação pela vista privilegiada, do segundo andar, de frente para a piscina e onde a festa estava começando. De redente toca a campanhia. Era o fotografo que vinha pedir para fazer umas imagens de nossa janela. Pronto, pode isso??? Imagina nossa surpresa, o cara escolheu, no meio de tantas possibilidades, justo a nossa janela. Numa somatória de coisas a nosso favor, depois de fazer amizade com o cara, que até votou no concurso da melhor foto de rickshaws, em alguns minutos colocamos nossas melhores roupas e partimos para festa.

Foi um casamento com muita pompa, rituais, cores, danças... O noivo chegou a cavalo, foi levado pelos amigos, passaram por um arco florido, receberam um abraço de ombros de uns senhores que depois do abraço levantava o noivo no colo e colocava dinheiro numa cestinha.

A noiva chegou acompanhada pelas amigas e outras mulheres coloridas e uma menina. Passou por um outro arco florido, foi caminhando nervosa, vestida de um jeito que só um povo maravilhoso como este poderia criar, foi até o palco e... bom, ates dela encontrar seu futuro marido, os dois receberam um colar de flores que, pelo que eu entendi, depois que cada um colocava aquele objeto, com um gesto delicado, no pescoço do outro o amor e a união entre eles estava selada...

Precisa dizer mais coisa sobre um povo que escolhe rituais como estes?
O resto da noite foi um deslumbramento só o que me causou uma segunda-feira bastante complicada, mas este já é assunto para uma outra conversa.

PS – Para votar agora, é necessário ir no link ao lado e clicar em CONCURSO: A MELHOR FOTO DE RICKSHAWS. Façam suas apostas, está chegando o dia. Compartilharemos com vocês as comemorações.

Casamento a Indiana, o noivo.





Amit e Neha


domingo, 27 de abril de 2008

Once Upon a Time in Taj Mahal.







O simpático moço que vemos a cima é o Imperador Mulçumano Shah Jahan e a sua esposa, marmorizada, não só no Taj mahal, como neste vaso, de onde tirei a foto, são os responsáveis por este monumento, um tributo ao amor.
Em 1631, ao dar a luz a sua 14° filha, a esposa preferida do Sutão morreu. Antes disso ela fez três pedidos: que ele amasse todos os filhos que ela deixava, inclusive a filha que acabara de nascer, que ele não tivesse outra esposa e que fizesse alguma coisa pela memória da moribunda.


Mumtaz Mahal sabia o marido que tinha e fez um pedido sábio, para a pessoa certa. Nasce assim o Taj Mahal. Depois de quase 22 anos em construção, fica pronta o impressionante túmulo, aonde estão os restos mortais de uma das tantas mulheres de um Sultão e que tinha preocupações em não ser esquecida.

Não vou descrever a experiência de visitar um monumento como esse. Eu precisaria de muitas palavras, e ainda assim estaria em falta e correria o risco de cair na simplicidade e vocês não perceberiam nem uma parte de como foi alucinante estar nesse lugar. Deixo algumas fotos de turista, mas quem me conhece sabe que este sorriso que aparece ai, diz muita coisa. Estou escrevendo uma matéria, que será publicada em breve numa revista brasileira, onde darei mais detalhes. Por hora compartilho com vocês, como se faz com um amigo que se deseja o bem, um grande dia.

CONTINUEM VOTANDO NO CONCURSO POR FAVOR... PARA NÓS AQUI ESTÁ MUITO ANIMADO...

Um Brasileiro no Taj Mahal







sexta-feira, 25 de abril de 2008

Despedida de Calcutá.



Estou neste momento no aeroporto de Calcutá, esperando o vôo que nos levará a Delhi, capital da Índia. Diferente do de Mumbai, este aeroporto lembra mais uma rodoviária dessas antigas no Brasil. Acabei de passar pela segurança, motivo sempre de tensão, mas aqui, com esse povo gentil, foi mais uma das boas experiências com trocas de cordialidade. O policial até que tentou fazer uma cara feia, quando o raio-x identificou que eu levava alguns itens suspeitos. Antes de abrir a mala ele pediu se era câmeras, quando disse que sim, ele perguntou de onde eu venho. Ao ouvir um Brasillllllll, pronunciado bastante redondo, ele deu um sorriso e me mandou embora.

Tem sido assim desde que chegamos no país, mas Calcutá ficará marcado como o lugar onde realmente me senti na Índia. Como é possível alguém gostar tanto de uma lugar tão poluído, com um trânsito ainda mais confuso que o de Mumbai? Todas as noites quando voltávamos pro hotel, a sujeira no ar chegava quase ao insuportável. Os carros e ônibus são movidos a óleo diesel e não há nem um controle de poluição. Rodízio aqui?? Nem pensar!!

Os táxis, aqueles típicos amarelos, da marca ambassador, são até mais confortáveis que os de Mumbai, onde eu, com meus mais de 1,80m tinha que ficar meio curvado. É muito barato andar de táxi em calcutá, várias vezes fizemos trajetos de mais de uma hora de duração e não custou mais que o equivalente a R$ 10,00. Tentamos visitar a fábrica do ambassador, mas estava fechada. Porém não tem ar condicionado nos carros e sempre é necessário andar com a janelas abertas, respirando, muitas vezes, perto do carburador dos ônibus.

A cidade é úmida e muito quente. Acho que eu nunca transpirei tanto na vida. Evitamos sair nas ruas no horário mais quente, mas algumas vezes tivemos que passar muito calor. A roupa ficava manchada de sal, de tanto que suava.

Ontem voltando para o Hotel na pior hora do dia, olhando para uma paisagem catastrófica e respirando o ar mais impuro que meus pulmões já sentiram, eu me perguntava em silêncio, porque eu estava tão triste por deixar um lugar desses.

A resposta é bastante clara pra mim, foram as pessoas que me fizeram amar tanto Calcutá. Não só as que eu tive a oportunidade de conhecer, mas o povo em geral, cada sorriso, gentileza, a tranqüilidade dos motoristas de táxis, das pessoas que fotografei, que cruzei pelas ruas...

As maiores aventuras continuaram acontecendo no trânsito, os motoristas vão se metendo aonde tem lugar nas ruas (inclusive na contra-mão), buzinam sem parar, até se xingam, mas nunca tiram do rosto aquele olhar lânguido, concentrado e quando você diz alguma coisa, mesmo que eles não entendem, respondem com um leve aceno de cabeça, fecham os olhos e dão um super sorriso. Quero ver você resistir a isso!!!

Tive a sorte de fazer um amigo em Calcutá, como já contei. No dia de sua folga, Mukul me levou para conhecer a cidade que ele gosta. Andamos aquele dia, como andamos. Mas foi a partir daí que comecei a me senti inteiro na Índia e de não querer mais voltar para o Brasil. Apesar de todo o receio não tive como evitar o convite para provar sucos, doces, bolinhos, entre tantas coisas que me foram oferecidas naquele passeio. Por mais suja que parecia a barraquinha, por mais dúvidas que eu possa ter tido sobre a origem do que eu ingeria, mais saboroso ficava, ainda mais que, logo em seguida, quando ele percebia que eu tinha gostado, vinha o gesto na cabeça, o fechar dos olhos, o sorriso...

Ontem, depois de uma visita especial ao convento de Madre Tereza, fomos conhecer a Universidade de Calcutá. Tivemos a sorte de cair na graça da Professora Doutora Tapati Basu, que coordena o curso de comunicação. Ela nos convidou para almoçar com ela e colocou um professor de jornalismo a nossa disposição. Não dá para descrever a atenção que tivemos dessas pessoas. Parecíamos duas celebridades, todo mundo nos olhando, sorrindo... alguns alunos viam falar conosco, pedir para tirar fotos.

Tiramos bastante fotos. Quando entravamos nas salas, os alunos ficavam em pé, como fazíamos ai no Brasil no primário. Lembra disso?? Numa das salas, quando estávamos nos despedindo o professor falou brincando que o Érico parecia com o Brad Pitt, a sala inteira caiu na gargalhada...

No almoço nos foi oferecido uma espécie de torta folheada vegetariana, khasta Kachon e a sobremesa um doce branco meio feio mas com gosto muito bom, o sandesh, depois saímos do prédio, uma construção antiga do fim do século IXX, que lembrava em muito a Universidade Federal do Paraná, aonde tive a sorte de estudar nos anos 90, e fomos tomar chá com leite na rua. Nem precisa dizer que o professor Uma não nos deixou pagar nada.

Já estávamos satisfeito, mas ainda tinha muita coisa pela frente. A professora dispensou nosso amigo Uma Shankar para nos acompanhar por Calcutá no resto de nosso último dia na cidade. Ele nos levou então ao templo que ele costuma ir toda semana, o Dakshineswar Kali Temple. Pegamos trem – fica meio afastado da cidade, mas lá dentro, acompanhado por uma pessoa muito próxima das autoridades do lugar, pudemos circular com liberdade.

Deixamos os calçados na entrada. Ele nos ensinou a fazer a purificação com a água e disse que poderíamos ficar livre para rezar do nosso jeito. Quando estava dentro do templo, oferecendo rosas a uma imagem que eu não fazia idéia quem era, me passou pela cabeça, de uma maneira muito forte e presente, as pessoas que mais amo e desejo o bem nesse mundo. Depois entendi que nesse momento eu estava fazendo uma das orações mais fortes e com mais fé desde sempre...
Como sentirei saudades de você Calcutá.

PS - CONTINUEM VOTANDO NA MELHOR FOTO DO CONCURSO, POR FAVOR!!!!

Bastidores de Calcutá 2



Bastidores de Calcutá






Brad Pitt Se despede de Calcutá.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

CONCURSO "A MELHOR FOTO DE RICKSHAWS"






Eu e o Érico estamos fazendo um concurso entre a gente para ver quem conseguiu a melhor imagem, esta semana, dos famosos puxadores de Calcutá, os Rickshaws. Cada um de nós concorre com duas imagens. Por favor votem na sua imagem preferida, através de comentários neste post até o dia 01 de maio. Lembrando que só deve ser escolhida uma, seguindo a sequência de cima para baixo, ou seja, a primeira imagem que aparece é a 01, a segunda 02, assim por diante. Sejam imparciais e sinceros.
Contamos com a sua participação.

‘Channas’ e ‘Chicos’, Os Sabores da Índia – Atendendo a pedidos.




Uma pessoa que gosto muito me pediu que eu falasse mais sobre a comida por aqui e mostrasse fotos. Voilá, espero que goste e para provar que caprichei na pesquisa começarei falando de uma de suas preferências:

Channas – Uma espécie de grão de bico, mas com um gosto diferente. Já tinha comido em Mumbai, mas hoje provei como um legítimo prato indiano.
Sábado fui conhecer a melhor balada de Calcutá. Fiquei surpreso com a receptividade do pessoal daqui, ou seria da curiosidade com o branquelo que dançava, feliz da vida, num canto qualquer da pista? Já tinha bebido um pouco. Escolhi um lugar que ficava mais ou menos perto do bar, mas ainda dentro da pista de dança, fechei os olhos e só abria para não errar a boca.

De repente senti uma mão me puxar. Era uma menina de uns 25 anos que me chamava para dançar na, digamos assim, roda de amigos. Foi ai que comecei a interagir com os Calcutenhos, ou como diz um amigo, com as Cocotas de calcuta!!
Brincadeiras a parte, só contei este episódio para dizer que o povo é mesmo muito especial e como, a partir dai, pude conhecer de perto a comida indiana. O resto da noite foi só de alegrias, conhecendo pessoas que talvez eu não volte a encontrar, mas que guardarei com carinho a atenção que me deram e o tanto que nos divertimos.

Fiz porém um amigo nesta noite, o Mukul. E faz sentindo falar dele aqui, pois foi por sua causa que pude comer a ‘channa’ do título acima. Almocei hoje no restaurante de um resort, onde meu novo amigo trabalha. Um verdadeiro oásis no meio do caos desta cidade.

O hotel foi construído para que você não saiba mesmo aonde está. Ele é quadrado, com uma super piscina no meio, rodeado por palmeiras reais, daquelas gigantes. Ok, estou num país emergente, pesquisando o assunto e faz sentido conhecer todos os lados. Certo?

Disse para o Mukul que gostaria de provar algo local e confiaria no seu gosto. Pedi que não fosse muito apimentado. Ele providenciou então a Channa Batura, da foto acima.

O prato demorou uns 30 minutos para chegar. Não tinha no menu e foi preparado especialmente para atender ao gosto do Brasuca que vos fala. Enquanto isso ele me contava da vida que leva nessa cidade, dos sonhos para o futuro, da saudade dos pais que vivem em Delhi e, ah, ele também quis saber muitas coisas sobre o Brasil e minha vida lá. Atencioso o rapaz!
Foi piada a história do ‘median spicy’. Estou até agora sofrendo os efeitos dessa refeição, mas quando terminei de comer ‘channa’, meus lábios latejavam e só melhoraram quando coloquei uma colher de sementes de ervas-doces, que no final de cada refeição é servida para aliviar o hálito.

Chicos – O primeiro contato que tive com uma chico (= Sapodilla - Manilkara zapota) foi aqui em Calcutá, ainda no primeiro dia na cidade. Cheguei no Hotel e eles tinham preparado uma cesta de frutas, com um bilhetinho nos desejando uma boa noite.

Ela tem a textura de um kiwi, precisei descascar cuidadosamente a fruta, enquanto um liquido frio e açucarado escorria por meus dedos. Mesmo antes de provar eu já sabia que estava diante de uma grande experiência gastronômica.
Não tenho jantado aqui, o calor, as cenas fortes que vejo na rua, a preocupação em comer alguma coisa que me faça mal, entre outras coisas tem me levado a não pensar muito nesses desejos.

Ah, também precisava perder uns quilinhos... Isso significa que naquela noite, com a fruta descascada em minhas mãos, aquele cheiro forte, a textura diferente, tudo isso junto me levou a sentir algo mais do que prazer.
Um dia, jantando com uma grande amiga, a Cristine, num restaurante em Lisboa, depois que um bacalhau - o melhor que já comi - chegou e quando provei aquela delícia, ela olhou pra mim e falou algo do tipo: - Você deveria ver sua cara, acho que nunca vi uma pessoa demonstrar tanto prazer assim numa refeição.

Não posso ver minha cara nessas situações, e elas acontecem com freqüência, por sorte, mas sei perfeitamente o que ela estava dizendo. Talvez seja os hormônios (será??), ou alguma reação química de meu cérebro, mas ao colocar uma chico na boca... melhor agora passar para citação.

Antes disso quero deixar claro que, como provam as fotos, sempre estive me referindo a um grão e a uma fruta, por mais que sua malícia possa querer me dizer o contrário.


“Aquele gosto amargo do teu corpo, ficou na minha boca por mais tempo. De amargo e então salgado ficou doce, assim com o teu cheiro forte e lento. Fez casa nos meus braços e ainda leve e forte e cego e tenso fez saber, que ainda era muito e muito pouco.
Faço nosso o meu segredo mais sincero e desafio o instinto dissonante. A insegurança não me ataca quando erro e o teu momento passa a ser o meu instante. E o teu medo de ter medo de ter medo, não faz da minha força confusão. Teu corpo é meu espelho e em ti navego, eu sei que tua correnteza não tem direção”.

Renato Russo.

... se é que você me entende.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Pura Chand – Full Moon



CHAND ME KUCH KAMA
The moon said something

RAAT NE KOCH SUNA
The night heard something

TU BHI SUN BEKHABAR
You also listen, unknown person

PYAR KAR, HO HO HO PYAR KAR
Love, fall in love

AAYI HAI CHANDNI, TUMSE KEHNE YANI
Moonlight has come to tell you

MERI GALI MERE CHAR
In my street, at my house

PYAR KAR, HO HO HO PYAR KAR
Fall in love, fall in love…

domingo, 20 de abril de 2008

Girls And Boys




It is Sunday in Kolkata

sábado, 19 de abril de 2008

Distrito da Luz Vermelha.



“Nascidos em Bordéis” é um documentário de uma fotógrafa americana sobre as crianças, filhas das prostitutas do bairro da Luz vermelha, em Calcutá. Em 2004, Zana Briski, diretora deste filme ganhou o Oscar de melhor documentário. Quem me falou do filme pela primeira vez foi uma documentarista brasileira a Camila Garcia. Ainda me lembro a empolgação, o brilho nos olhos, quando ela me descrevia o filme. Hoje Camila está gravando suas primeiras cenas de um trabalho sobre as prostitutas do parque da Luz, em São Paulo.

Ela tem razão, “Nascidos em Bordéis” é um filme que emociona mesmo quem não tem nenhum interesse por documentários. A história é simples, mas tratada de uma maneira belíssima. Ela veio para Calcutá fazer um trabalho fotográfico sobre a vida destas mulheres. A primeira coisa que a impressionou foram as crianças, que vivem ali no lugar onde as mães trabalham.

Quando cheguei hoje a tarde pude perceber perfeitamente o que motivou a fotógrafa a passar mais de 2 anos convivendo com estas crianças. O distrito não tem esse nome por acaso, é um bairro mesmo, melhor dizer, uma cidade, com atmosfera diferente de qualquer outro lugar que estive na Índia. Fomos com um guia, ele negociou com um rapaz que apareceu assim que descemos do táxis. Acabamos sendo guiados no bairro por um senhor de uns 70 anos. Segundo o guia e outras pessoas que falamos aqui, mais de 40 mil prostitutas vivem no local, é o segundo maior prostíbulo do mundo, só perde para o de Mumbai, também na Índia.

Era por volta de 16 horas da tarde, hora em que o sol começa a manchar de amarelo a paisagem, ou seja o melhor momento para trabalhar. Fomos porém avisados que se alguma câmera fosse avistada pelos moradores, as chances de perdê-la seriam muito grande.

Hoje ficou fácil entender o interesse por estas crianças, elas estão por toda parte e fazendo coisas que qualquer criança faz, em qualquer lugar, na idade delas.

Passamos a entrar nos prédios onde ficam as prostitutas. Eram edifícios de 3 ou 4 andares, com um corredor estreito. Assim que pisava os pés no prédio a mesma cena se repetia. Vía homens, sempre mais que um, deitados na entrada, ao lado da porta. Quase todos dormiam, fiquei sabendo depois que são os seguranças. Outra coisa recorrente, era o grito emitido pelo senhor que nos guiava, uma espécie de uivo, chamando as moças para as portas de seus quartos, assim poderíamos observá-las e fazer nossas escolhas.

Ele nos levou para conhecer as melhores, mais bonitas e as mais caras do bairro. Bem diferentes das mulheres que tínhamos cruzado poucos antes nas ruas iluminadas do distrito. Depois do quinto ou sexto prédio que entramos a situação estava ficando tensa. A comunicação tem sido uma das grandes dificuldade desta viagem. Ao contrário do que todos pensam sobre a Índia, nem todo mundo fala inglês. Por mais que tínhamos explicado que nosso interesse era conhecer e, na melhor das oportunidades fotografar o bairro, nem o guia nem o senhor que nos acompanhava estavam dispostos a entender, achavam que era apenas uma desculpa para que dois 'branquelos' pudessem usufruir do negócio que ali parecia tão normal.

Cada prédio a história se repetia. Enquanto o guia tentava negociar que fotografássemos, moças apareciam, se mostravam e quando percebia que não tinham passado por nossa aprovação, voltavam para seus quartos. Um show nos custou 1.550 rúpias, mais ou menos R$ 80,00. Nada muito diferente do que qualquer outro que vocês possam imaginar. Entramos os quatro (ela, o guia, eu e o Érico) um cubículo pequeno.

Sua apresentação, negociada para durar aproximadamente 40 minutos, foi interrompida 4 vezes. Duas delas para atender o telefonema do filho, um menino de uns 3 anos e as outras duas por causa de apagões, um outro problema diário da cidade. Na primeira interrupção, ela apenas abaixou o som da Britney Spears, sentou no meu colo e enquanto falava com o menino, me mandava beijos e me chamava de ‘sex guy’. Quando ela terminou a ligação o celular ficou do meu lado, na cama, e pude ver na tela iluminada, por vários minutos, o retrato de uma criança sorridente, acompanhada da mãe, que por sua vez dançava na minha frente para justificar o dinheiro que já havia recebido. Na segunda interrupção já tocava outra música indiana, que se não fosse a letra lembrava qualquer uma que escutamos por ai. O apagão foi meio constrangedor, ela já estava despida e se enrolou num véu preto e foi até a porta falar com as outras tantas pessoas do corredor.

Fiz alguma fotos escondidas, nada de muito especial e que pudesse expor alguém, mas foi uma grande experiência e indiferente da opinião que eu tenha sobre a prostituição ou que você possa ter, existe em Calcutá, na Índia uma cidade quatro vezes maior que a cidade que eu nasci no interior do Paraná totalmente voltada para este ofício.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vingança do Senhor do tempo





Pelo que me lembro no último post andei falando alguma coisa de estar no futuro, uma brincadeira sobre a diferença de horário entre Brasil, Europa (Rodrigo e Elo vocês não contam, a Austrália ta na frente!!!) e Índia. Pois bem, pegamos o avião em Mumbai, chegamos em Calcutá, deixamos as coisas no Hotel e fomos direto para uma viagem ao tempo. Desta vez nada de brincadeira, delírio ou qualquer coisa que o valha. Importante dizer, não fomos levado ao futuro e sim a um passado de sessão da tarde, filmes da época de Jesus Cristo. De repente chamei o Érico e perguntei, Cara, você não tem a impressão de que a qualquer momento vamos cruzar com o Mel Gibson, no intervalo das gravações do filme sobre Cristo?

Calcutá tem sido isso, e para dois espíritos loucos por aventuras como nós a cidade está nos oferecendo muitas coisas. É certo que a poluição incomoda, é a segunda cidade mais poluída do globo e isso não é só estatística, meu nariz e olhos que o digam. Cruzamos a Índia de oeste para leste e recomeçamos tudo. Por mais que eu esteja cansado, cada hora aqui tem sido uma experiência que sempre desejei ter. Quando penso que o Everest fica aqui perto... caracas, perco o sono!!

Hoje teria tudo para ser um dia perdido. Temos agendado algumas ongs para visitar semana que vem, amanha vamos ao bairro da Luz vermelha (Camila, Marcos e Gabi, vocês estarão comigo lá!), onde foi gravado o filme ‘Nascidos em Bordeis’, e hoje tínhamos agendado uma visita a mais uma favela daqui. Deu tudo errado, o guia nos levou a um lugar que parecia piada perto do que encontramos por nós mesmo. Não ficamos na favela, passamos num Shopping bem moderno, comemos um Kebab, para evitar enganos, pegamos um tuk tuk (divertido isso!!) até o metro...

Saímos caminhando a esmo e nossa intuição e a harmonia com que estamos fazendo este trabalho nos levou para uma outra vertente dessa viagem ao tempo. Por ali passava um tal de rio sagrado, chamado Ganges, encontramos uns anjos se banhando, eles adoram fotos e quase se mataram de rir quando eu escorreguei numa lama e por milagre (deles talvez) não cai com equipamento e tudo na água... mas tudo bem seria um banho sagrado e naquela hora eu já estava mais que precisando!! Comecei a ver uma aparição, uma ponte no fundo de um corredor de trilhos de trem, meio moderna a construção... mas como era uma aparição não liguei muito e sem falar nada fomos naquela direção.

Ali embaixo... bom, tinham pessoas fazendo arranjos de flores, guirlandas coloridas, colares de uma flor que nunca vi na vida. Foi comovente ver aquelas mãos ásperas pegando em coisas tão delicadas e tornando o que já era belo em algo... peraí, já avisei que foi sagrado aquilo? Tive certeza disso quando parei de me preocupar em perder o Érico, em ter medo de ficar sozinho naquele lugar e de que algum espírito do mal tentasse fazer algo contra a gente (maldade aqui? piada pensando nas pessoas que ando cruzando em minha vida real!!), sem essa preocupação, ele inesperadamente aparecia no meio de carregadores, trabalhadores de todos os tipos de atividades manuais que sua imaginação pode prever. O Érico fala bastante, sempre tá de bom humor e disposto a bater papo. Dessa vez ele só me olhava com a cara de satisfeito, feliz, eu podia ler seus pensamentos: ‘I love my job!!’ e tava tudo certo...

Estamos num Hotel num lugar bastante caótico da cidade, mas é um 4 estrelas, muito bom, chão de mármore, chique, o café da manha? Jesus!!! O táxi nos deixou na porta, foi aí que me senti estranho, estávamos sujos, imundos melhor dizer, eu tinha lama na bota e calça e o fato dela ser sagrada não fazia muita diferença ali. Entramos no saguão e percebi algumas pessoas nos olhando estranho. Os dois estavam sentindo a mesma coisa, uma enorme vontade de rir, de gargalhar pela situação, pela felicidade plena, pelo amor pela profissão e principalmente por termos a convicção que estávamos terminando um dia especial, que jamais esqueceríamos.

O Érico foi tomar banho, coloquei minhas fotos para descarregar, dei play para o Morrisey cantar ‘I Like You’, deitei no carpete macio, estendi meus braços e senti as costas doer um pouco, quando fechei os olhos tive a certeza que poucas vezes na vida me senti tão feliz, tão realizado... mas não se engane, Calcutá é a cidade que com certeza qualquer turista processará a agência que o mandar para cá!