sábado, 3 de maio de 2008

Expresso para Varanasi







A Índia tem a maior rede ferroviaria da Ásia. É quase uma obrigação para o viajante se aventurar por uma dessas linhas.
Tinhamos indo de trem para Agra, ver o Taj Mahal, mas foi uma jornada bastante confortável e não durou mais que 2 horas.
Cheguei na New Delhi Station às 17:30, uma hora antes do trem partir. Ja tinha ouvido falar que pontualidade não foi uma
coisa herdada dos ingleses e que uma viagem pode atrasar em até 18
horas. Para quem estava prestes a ficar 13 horas num trem essa noticia não era nada animadora.

Para minha surpresa, quando consegui chegar na plataforma 11, depois de cruzar com uma multidão de pessoas, o trem ja estava lá. Eles colocam uma lista na entrada de cada vagão com o nome dos passageiros com reservas e não posso negar que dei uma gargalhada quando vi Wilson Negrao no meio de tantos nomes estranhos, cheios de consoantes.

Comprei um dos últimos lugares no vagão dormitório S5. Cada cabine
acomoda 8 pessoas em uma especie de 'maca', 3 de cada lado e mais 2 na outra extremidade, separadas pelo corredor.

Quando consegui encontrar meu lugar no meio de tantos indianos que não falavam nada em Inglês, eu estava preparado para tudo, inclusive para passar as próximas horas mudo, sem falar com ninguem.

Para minha surpresa, meus companheiros de viagens foram bastante
falantes: Uma alema, a Hana, que se tornou minha amiga (fizemos várias coisas juntos em Varanasi); duas coreanas que riam e se maquiavam o tempo todo; um jornalista indiano, muito simpático e que apesar de não falar muito bem inglês me deu muita atenção, não deixava eu pagar nada e me oferecia quase tudo que era servido no trem; e dois senhores que ficaram depois do corredor e não conversei.

O trem saiu no horário, mas a viagem que seria de 13 horas demorou
quase 15. Fui para o meu pequeno espaço entre a Hana e uma das
coreanas, lá pelas 10 da noite. Sem exagero nenhum entre a ponta do meu nariz e a cama de cima, tinha pouco mais de 10cm... Achei que não conseguiria dormir ali.

Para disfarçar o piripaque de estar deitado numa espécie de caixão
apertado, liguei o i-pod. Gravei algumas músicas do Érico e para minha supresa achei uma pasta: Legiao Urbana - Unknown Album, quando coloquei ouvi um Renato Russo de 25 anos falando do que gostava e que, apesar de ter estudado jornalismo foi no Rock que ele se encontrou. Com a companhia do meu grande ídolo, foi fácil suportar aquela noite caustrofóbica.

Dormi bem, de vez em quando eu tentava espaço na janela para poder respirar melhor, verificava se minhas coisas (bagagem) estavam entre minhas pernas e ‘pacotava’ de novo. Nada melhor do que vencer seus medos...

Por volta das 6 da manha comecei a ouvir uma movimentação que me deixou preocupado. Estava na melhor hora do meu sono e aquela coreana que dormia ali tão perto poderia se aproximar ainda mais que eu não me encomodaria. Mas tive que acordar. Quando você divide pequenos espaços com bastante gente, sua vontade é apenas uma pequeníssima parte do todo, portanto, em alguns minutos eu estava sentado e as camas desmontadas...

Da janela vi uma Índia rural acordando. Aquela gigante locomotiva ia rasgando a paisagem e passando por vilarejos, pequenos barracos, campos vastos cheio de vacas e mulheres com roupas coloridas... vi até um espantalho e fiquei desapontado pois não consegui identificar se ele tinha aquela marca típica do indiano na testa.
De vez em quando o trem parava no meio do nada e pessoas curiosas ficavam nos olhando... eu tentava imaginar o que passava por trás daqueles olhos negros que me encaravam de maneira tão terna.

Eu estava faminto e lembrei que tinha trazido do Brasil umas bananas desidratadas, dessas que você acredita que nunca vai usar. Comprei um chá com leite e acabei com o meu jejum, tentando me preparar para o que me esperava naquele dia que já amanhecia quente.

Fui ao banheiro e vi que a porta entre um vagão e outro estava aberta. Fiz algumas imagens pendurado no trem e quando senti o vento batendo no meu rosto me senti o cara mais livre do Universo. Coloquei novamente a música para tocar e naquele momento eu estava tão feliz que seria capaz de suportar qualquer coisa com a nobreza que cada alma deve ter. Foi assim que cheguei em Varanasi, a cidade mais sagrada da India.

Um comentário:

Anônimo disse...

RENA,ME DEU FALTA DE AR SO DE PENSAR NO APERTO DO TREM...QUE CORAGEM HEIN??!!!PARABENS MUITO LEGAL.AHHH DEIXA UM RECADO PRA MIM TAMBEM, EU VI O DA MAE E FIQUEI COM CIUME RSRSRSRSRRS.BJ ROSANA