sábado, 18 de outubro de 2014

flâneur, iPhones e outras considerações.


Dizem que tive sorte com o clima, justo nesta semana está fazendo o que os canadenses chamam de "India Summer", quando o tempo esquenta de repente. Apesar de quente, tem chovido bastante.
Ontem coloquei o despertador para me chamar às 6 da manhã, a previsão dizia que o sol sairia às 7, então queria estar na rua. Quando abri as curtias vi um tempo feio e chovendo. Mesmo tendo ido dormir tarde, depois de uma noitada celebrando o projeto com o Luc e alguns amigos, eu estava animado demais para ficar na cama e sai assim mesmo.
Existe uma palavra em francês que os fotógrafos de ruas adoram usar - flâneur. Que significa sair sem rumo pelas ruas, sentindo o espírito da cidade.
Enquanto eu andava pelas ruas de Montreal, estava pensando nisso, no prazer que a fotografia traz pra tantas pessoas, ela é uma possibilidade para você estar no mundo de um jeito diferente, se conectar com pessoas e coisas de um jeito que só ela permite. Ela nos autoriza a chegar perto a ter uma razão para realizar o que nos motiva.
Mas o mundo está mudando muito. Existe uma diferença grande entre o flâneur de hoje e o de alguns anos atrás. A principal diferença pra mim é o fato de estarmos acostumado a falta de tempo. Acostumado sim, pois até quando podemos fazer as coisas com mais calma, parece que algo está fora de ordem.
Pensava em tudo isso quando começou a chover forte e entrei no primeiro café que encontrei. Por sorte, tinha um lugar perto da janela. Depois de me esquentar comecei a, como dizem os ingleses, "watching people". A janela tinha um formado interessante que logo ajustei ao frame do meu iPhone (muito mais prático que a pesada câmera). De repente percebi que tinha algo novo acontecendo ali. Um jeito novo (bem, não tão novo assim... rs) do fotógrafo se conectar com a cidade.
Hoje todo mundo fotografa com smart phones. As fotos são armazenadas e quando vc visita seu album encontra um monte de coisas parecidas. Isso é uma outra imagem, se você pensar que no celular enquanto um enquadramento. Tive então a ideia de fazer dessas fotos da janela, uma única imagem.
O fotógrafo do século passado saia pela cidade e esperava as coisas acontecerem. Tinha tempo suficiente pra aguardar tudo se alinhar - mente, olho, coração. Como gostava o mestre Bresson. Agora não dá não, tá tudo girando forte e precisamos enfrentar as ruas de um outro jeito.

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