domingo, 26 de julho de 2009

Um dia Perfeito



Sexta-feria consegui tempo no final do dia e fui ao cinema. O clima estava terrível, chovia muito e São Paulo, para muitos, agonizava. O bom de uma cidade, de ser cidade, é que depende sempre do ponto de vista de quem esta nela. Pelo menos uma pessoa, este que vos escreve, estava gostando daquele estado de caos das coisas.

Foi assim, com este espírito ‘revolucionário’ que comecei meu fim de semana. O filme, bom o filme foi mais um dos bons filmes franceses em cartaz na cidade "A Garota de Mônaco", nada porém que mudasse alguma coisa no meu estado de espírito, nem para melhorá-lo ou me fazer sentir mais triste.

No caminho para casa, passei no mercado para abastecer os dias trancado na toca. Motivos eu tinha para isso, dois livros destes que ficam em pé na estante para ler e mais um de poesia, para as horas vagas, o banheiro...

Trancado num apartamento no alto de uma colina no bairro da Vila Madalena tive um encontro comigo de alguns anos atrás. Encontro com a pessoa que fui um dia e com a que não fui também. Com a vida que desejei ter vivido enquanto fazia de meu quarto adolescente uma infinita possibilidade de histórias, personagens e vida.

Estou lendo o relato da tragetória de Renato Russo em contraponto com a história da construção de Brasília e o que veio depois: "RR O Filho da Revolução". Tempos estes de falta de liberdade e o que acontecia numa parte importante do Brasil durante a ditadura militar.

O importante é que o livro é bom demais. Acho que o autor, Carlos Marcelo (que nasceu no mesmo ano que eu), fez um favor enorme às aulas de história brasileira. Sem o ranço de muitos dos inúmeros filmes ou livros que falam do período, ele escolheu contar, e conta muito bem, sobre um dos períodos mais complicados do Brasil alterando com a história do grande ídolo pop, Renato Russo. Quando começa a ficar insuportável os absurdos dos velhos do poder, ou dos filhos do poder que com carteiras de identidade especiais podiam tudo, mudamos a página e encontramos um Renato ainda Manfredini na sua epopéica formação. Os primeiros passos do ídolo que seria uma companhia indinspensável para o roteiro de muitas histórias, um poeta que criaria letras que ajudou muita gente da minha geração a entender um pouco melhor a vida, mesmo que anos depois eles não tivessem ideia do que fazer com isso.

Da janela tenho uma vista privilegiada da cidade. Comprei uma cortina preta, com flores brancas que passa a maior parte do tempo aberta. E não foi diferente neste fim de semana frio e chuvoso.

O outro livro fala sobre a cidade e faz parte de um certo compromisso, pois faço um trabalho sobre o tema e fui buscar inspiração. Paisagens Urbanas, de Nelson Brissac Peixoto, que foi coordenador do projeto Arte/Cidade, nos anos 90. Em cada capítulo uma discussão sobre a cidade, uma maneira diferente de pensar a arte e, conseguentemente, muitas ideias dançavam em minha mente embaladas por música urbana. “... A poesia então nasceria da compreensão da incapacidade das palavras darem conta da paisagem. Ela torna disponível à invasão das nuances, torna passível ao timbre: é a escrita da descrição impossível”.

No fim da tarde fazia um frio danado, fiz uma sopa de legumes, dei uma cochilada de quase uma hora, já tinha anoitecido às 5 da tarde. Naquele acordar sonâmbulo de um dia como esses, eu não sabia ao certo aonde estava, se era em Tupãssi, trancado num quarto onde eu colocava um beliche na porta, pois minha mãe tinha sumido coma a chave, ou se era numa tarde de um dos 4 invernos que passei na Inglaterra, quando eu ainda tinha esperança de que o amor é mesmo uma boa companhia... mas aos poucos a realidade estava de volta, a flor branca da cortina preta me trazia de volta...
Através da janela vi uma cidade encoberta pela neblina...

“Though we rush ahead to save our time
We are only what we feel...”
Da música cantada pelo Legião Urbana: On the way home