
Em toda grande cidade encontramos alguns refúgios, pra entrar e esquecer da agitação da vida do lado de fora. Em São Paulo, bem no começo da Avenida Paulista tem um café, no décimo quinto andar do Prédio do Sesc Paulista. Depois de passar por uma entrada cheia de fotos de peças que já foram realizadas nos Sescs de São Paulo, o visitante encara um elevador apertado com várias dicas escritas nas paredes de que tal economizar energia, ajudar o planeta e ainda por cima se exercitar? Como? Simples, usar mais as escadas.
Vamos aceitar a ideia aqui de que pra se ter direito a um oásis você precisa de algum esforço. Apesar de que na última vez que estive lá, o sacrifício veio depois, na mais de uma hora que enfrentei de trânsito para ir do começo da Avenida Paulista até a Vila Madalena, mas suponhamos que você não viva numa cidade em que precise encarar vários desafios diários e, caso ainda precise de um pouco de sofrimento para chegar ao refúgio, ok, encare as escadarias e vamos logo tomar nosso café com vista.

Cheguei lá num fim de tarde desse outono luminoso e colorido. Enquanto esperava minha vez na fila do caixa fiquei observando o ambiente, umas mesas de madeiras, algumas pessoas sozinhas, lendo, outras em rodas de bate papo. O sol entrava por uma janela que vai de fora a fora, iluminando o contorno das pessoas. Peguei meu café e fui para área de fora. Fazia um frio danado que me deu um bem estar gostoso e comecei a fazer algumas fotos. Como não estava a fim de me aborrecer, tentei ser discreto, pois em São Paulo tem uma cultura de quanto mais difícil for fotografar em alguns lugares melhor é. Qual fotógrafo nunca foi barrado por algum segurança ou funcionário de algum estabelecimento que com um inexplicável prazer vem te dizer que é necessário pegar autorização antes? A tarde estava linda demais, eu estava num dos meus melhores momentos desta semana e não queria dar chance que nada mudasse isso.
Este lugar junta duas das coisas que gosto muito. Uma, de ver a paisagem de cima, talvez por eu ter crescido numa cidade que o maior prédio tinha dois andares; e a outra de ir a cafés, por todos os lugares que vou sempre quando quero relaxar procuro um café bonito para me esconder. Isso porque só comecei a tomar café com 27 anos, quando morava em Londres e durante os invernos gélidos precisava chegar às 7 da manhã para abrir a catering que eu trabalhava e preparar o café para as funções da manhã. Fui facilmente seduzido pelo cheiro forte da bebida, que depois disso nunca mais parei de tomar.

O café é gostoso, tem um preço justo, te oferecem revistas e jornais e do alto de uma das principais avenidas de São Paulo você pode fazer de conta que não tem nada a ver com aquele caos que tão tranquilamente observa.